O painel “Trabalho decente: instrumento da liberdade e da igualdade” fez parte do seminário “Trabalho, Democracia e Inclusão Social”
Um dos pontos da programação do seminário “Trabalho, Democracia e Inclusão Social”, realizado nesta terça-feira (7) pelo Tribunal Superior do Trabalho para celebrar o Dia do Trabalhador, reuniu trabalhadoras e trabalhadores que trouxeram relatos de sua atuação em defesa da garantia de direitos básicos. O painel teve a mediação do ministro Augusto César, do TST.
Luta de trabalhadoras domésticas começou na senzala
Creuza Oliveira, ativista política e presidente de honra da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), iniciou o painel falando da luta histórica dessa categoria para conquistar direitos trabalhistas básicos. Ela lembrou Laudelina Campos, criadora do movimento sindical dos trabalhadores domésticos brasileiros em 1936, mas ressaltou que o processo começou muito antes. “Nossa luta começou nas senzalas, na casa grande, quando nosso povo fugia e criava os quilombos, para poder se organizar e forçar a assinatura da Lei Áurea”, destacou.
Agricultor diz que necessidade de sobrevivência alimenta trabalho escravo
O agricultor Marinaldo Soares Santos, resgatado três vezes do trabalho análogo à escravidão, explicou que a necessidade de lutar pela sobrevivência é o que leva as pessoas a se submeterem a essa situação, mesmo depois de terem sido resgatadas. “Um pai de família precisa levar comida para casa e sustentar os filhos. Às vezes ele não estudou, não tem conhecimento, e a única coisa que ele sabe fazer é aquele serviço braçal. Então, ele volta a ser submetido ao trabalho escravo”, disse.
Palestras no TST conscientizaram garçom
Mauricio de Jesus Luz, garçom do TST, também participou do painel e contou sua história de luta contra o trabalho análogo à escravidão. Maurício trabalhou desde os quatro anos em fazendas, onde comia restos de comida, apanhava dos chefes, dormia em lugares insalubres e foi submetido a situações degradantes durante 14 anos. Ele viveu como indigente até os 18 anos, quando se registrou no cartório e escolheu o próprio nome, que até então não tinha. Sua vida mudou quando veio para Brasília, aos 19 anos.
Mas ele só reconheceu e “descobriu” que viveu toda a infância trabalhando em condições de escravidão contemporânea ao assistir palestras sobre questões raciais, em 2022, no TST. “Quando cheguei no quinto andar para trabalhar na Presidência do TST, comecei a ouvir palestras e um dia me deparei com a palestrante Simone Diniz. Quando ouvi a história dela, revivi toda a minha e entendi que vivi uma situação análoga a escravidão”, revelou.
(Luana Nogueira/CF)
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