Como a relação do juiz com o trabalho pode interferir nas relações interpessoais
“Relacionamentos interpessoais na jurisdição – Subjetividade e psicologia do juiz” foi o tema da aula desta segunda-feira (19) no 25º Curso Nacional de Formação Inicial da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho ( Enamat). Os instrutores foram o desembargador aposentado Márcio Túlio Viana, do TRT da 3ª Região (MG), o juiz do trabalho e conselheiro da Enamat Homero Batista e a doutora em psicologia do trabalho Graziella Ambrósio, da Universidade de São Paulo (USP).
Consenso
Com mais de 20 anos de exercício da magistratura, o desembargador Márcio Túlio ressaltou como mudou, ao longo do tempo, a percepção que sociedade tem do juiz no sentido de um relacionamento mais igualitário. “Hoje os juízes têm assumido uma postura de consenso”, observou. “Precisamos estar mais próximos no linguajar, mais atentos à realidade que nos cerca nas salas de audiência”.
O desembargador lembra que, antigamente, o poder do juiz era aceito sem questionamentos. Hoje, no entanto, não existe mais espaço para essa visão. “Vocês, novos juízes do trabalho, precisam ser cuidadosos ao enxergar o outro. O juiz não é mais visto como um deus, mas quase como um igual, que está atuando para reduzir um pouco a desigualdade social”.
Educação emocional
A psicóloga Graziella Ambrósio enfatizou a importância da relação que o juiz tem com o seu trabalho e como isso afeta, diretamente, suas relações interpessoais. “A autoridade que não permite dialogar, que não ouve as partes, que não dá garantia alguma de resultados positivos, não tem um comportamento funcional”, avalia. “Precisamos aprender a lidar com as nossas reações e ter disposição para mudar atitudes, a fim de permitir uma vida com mais qualidade. Isso é educação emocional, algo que nem sempre aprendemos, mas que é fundamental para exercer o ofício que escolhemos com prazer”.
Relacionamento interpessoal
Atuando há muitos anos na primeira instância no Tribunal Regional do Trabalho da 2ªRegião (SP), o juiz Homero Batista relatou experiências vivenciadas nas salas de audiência. O intuito foi promover uma reflexão sobre como lidar com situações que podem fugir da rotina, por envolver questões de linguagem, cultura e costumes.
“Em nosso dia a dia vamos nos deparar com pessoas humildes, com imigrantes que trazem costumes e comportamento gestual diferente do nosso. Não podemos nos revestir de um autoritarismo e fazer um pré-julgamento”, alertou. “Faz parte da função do juiz ter domínio da situação. Diminuir o ar de autoridade é um exercício para facilitar a comunicação e o relacionamento interpessoal”.
Realidade
O ministro Alberto Bresciani, que presidiu a mesa, reforçou a importância de discutir aspectos do relacionamento interpessoal durante o curso de formação. “É um tema que promove uma reflexão sobre a missão do juiz de resolver conflitos, pois muitas vezes nos deparamos com situações delicadas sob os mais diversos aspectos”, assinalou.
Direito Digital
Dando continuidade às atividades, o promotor de justiça Fabricio Patury, do Ministério Público da Bahia (MP/BA), ministrou o painel “Direito Digital: Ferramentas eletrônicas e pesquisa em fontes abertas e fechadas”.
Na sequência, os juízes participaram do laboratório de alteridade com o tema “Relacionamento com partes e advogados no foro”, coordenado pelos juízes do trabalho Patricia Lampert Gomes (TRT1), Danilo Gonçalves Gaspar (TRT5) e Ana Paula Rodrigues Luz Faria (TRT17).
(AS/CF)