O ministro aposentado do Tribunal Superior do Trabalho Gelson de Azevedo apresentou, na sexta-feira (24), aos alunos do 23º Curso de Formação Inicial (CFI) da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (Enamat) a palestra Psicologia Judiciária Aplicada, em que falou sobre as expectativas individuais e sociais dos juízes como determinantes de suas condutas no litígio. Segundo o ministro, boa parte dos magistrados não sabe ser juiz, não sabe da relevância de suas funções, mas “aqueles que têm consciência da sua função social dão sentido ao fragmento da sociedade e sentido a própria vida”.
Angústia
Gelson de Azevedo observou que muitos juízes acham que só porque passaram em concurso já estão preparados para atuar, mas logo nas primeiras audiências se sentem inseguros tanto emocional quanto intelectualmente. Muitos, acredita, são tomados por um sentimento de angústia por terem de tomar decisões tão sérias e não terem uma fórmula segura para dirimir os conflitos.
Para Azevedo, angústia e insegurança são, até certo ponto, sentimentos salutares porque desencadeiam um movimento de aperfeiçoamento, de estudo e aprimoramento. Segundo o ministro, o que dá segurança é o conhecimento. “Leiam os processos antes de ir para a audiência, estudem, levantem problemas, compartilhem dúvidas, sejam humildes, e assim conseguirão decidir com sua convicção”, aconselhou.
Defeitos
Para Azevedo, existem três grandes defeitos da magistratura que podem prejudicar o comportamento do magistrado: vaidade, poder e inveja. “Muito cuidado com exercício do poder, é inebriante”, alertou. “É preciso atuar de forma moderada, sempre.” Ele também ressaltou que nenhum juiz trabalha sozinho, daí a importância de contar com os servidores. “Sem o servidor, você não faz nada dentro de uma vara, sem o servidor não somos nada”.
Sentido
Durante a palestra, a aluna juíza Jaeline Strobel, da 10ª Região (DF/Tocantins), citou um caso em que atuou de um trabalhador demitido por justa causa sob alegação de ter roubado uma garrafa de cerveja do mercado onde trabalhava havia 15 anos. Ela disse que estava convicta de que havia uma injustiça a ser reparada, “havia uma presunção de boa-fé ali que não foi valorizada e que deveria permear as relações trabalhistas”, disse.
Strobel relembrou que o empregador não conseguiu comprovar o roubo e que o trabalhador estava arrasado no dia da audiência. “Foram 15 anos, uma história de vida que acabava de uma hora para outra por desconfiança”, observou. A juíza disse que espera ter contribuído para resgatar o sentido da vida dessa pessoa, e que a situação, de certa forma, resgatou o sentido da sua própria vida como profissional. “É olhar para trás e ver que todos os sacrifícios valeram a pena. Um caso que me chegou e eu, dentro do meu possível, pude trazer a justiça para o caso concreto. É gratificante, é o dia que você fala: a minha parte eu fiz!”
(Ricardo Reis/CF)