O ministro do TST Lelio Bentes Corrêa coordenou a atividade da ENAMAT em que esteve presente o professor e psicanalista francês Christophe Dejours, como um dos palestrantes convidados do 19º Curso de Formação Inicial (CFI), no dia 16 de setembro. A atividade integra a disciplina de Temas Contemporâneos, que objetiva apresentar questões controvertidas e relevantes da prática judiciária trabalhista contemporânea.
Pela singular qualificação do pesquisador francês e a importância do tema ao falar para os alunos do 19o Curso de Formação Inicial, a atividade foi excepcionalmente aberta também para outros participantes especiais convidados, como conselheiros do CNJ, ministros do TST, diretores das 24 Escolas Judiciais, representantes de associações de magistrados (AJUFE, ANAMATRA e AMB), além da ENFAM/STJ, com a qual a ENAMAT mantém acordo de cooperação, e pesquisadores do tema em Brasília. A conferencia contou com tradução simultânea do francês para português.
O professor Dejours também cumpriu, em Brasília, agenda de trabalho no CNJ com o ministro do TST Lelio Bentes Corrêa, que também é conselheiro daquele órgão.
Renomado pesquisador em questões de saúde mental, Dejours desenvolveu novos paradigmas e consolidou uma nova área do conhecimento, chamada de psicodinâmica do trabalho. Com os seus estudos, ele promoveu uma enorme contribuição através de pesquisas sobre o trabalhador e as relações no mundo do trabalho, tanto nas empresas como nas instituições públicas.
Segundo ele, cada um tem um funcionamento psíquico próprio, fruto de sua história de vida singular. Ele descobriu o ponto chave desta análise: todas as pressões aparecem como decorrentes da organização do trabalho. Em uma de suas obras mais conhecidas, Christophe destaca a dinâmica do sofrimento do sujeito, que vive em um estado de luta contra as forças que possam levá-lo a um estado psicopatológico.
Em sua apresentação, ele destacou que, na França, por exemplo, não há juiz especializado em Direito do Trabalho, e que o poder público francês recorre, cada vez mais, a novas doutrinas, que visam introduzir, no setor público, as ferramentas que foram usadas no setor privado. “Este modelo melhora a produção e promove a efetividade e eficácia”, frisou.
O professor explicou que, na França, as reformas são medidas pelo desempenho, que visa o resultado do trabalho, ao invés de o trabalho em si, focando na economia de custos. Ele citou como exemplo o serviço de emergência em hospitais franceses, onde a melhoria do serviço é medida pelo tempo de espera dos doentes em serem atendidos.
Dejours ainda defende que o trabalhador que esteja passando por dificuldades no ambiente de trabalho precisa recorrer e pedir ajuda ao chefe ou autoridade hierárquica acima dele, mesmo nos casos de magistrados, onde a troca de experiência elevaria a capacidade de alcançar bons resultados. Ele atenta que as questões da saúde psíquica dos trabalhadores de empresas privadas também atingem magistrados e servidores que atuam em tribunais, e exigem atenção especial.
O psicanalista adota, em suas pesquisas, entrevistas coletivas com as pessoas, porque, através delas, no seu entendimento, é possível verificar a reconstrução da lógica das pressões do trabalho que os fazem sofrer e também as estratégias de defesa coletivamente construídas.
Além do renomado especialista francês, a atividade contou com outros estudiosos brasileiros do tema que apresentaram resultados de estudos feitos no CNJ e em Tribunais na área da saúde psíquica de magistrados e servidores. A mediação dos debates também teve a colaboração da desembargadora Leila Chevtchuk , diretora da Escola Judicial da 2a Região (SP) e membro do conselho consultivo da ENAMAT.
O CFI, com duração de 163 horas aula, termina no dia 09 de outubro/2015.
Waleska Maux/Enamat
Fotos: Aldo Dias/TST